A pesquisa que revelou uma mudança na fala cotidiana
Um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto Max Planck identificou um fenômeno linguístico inédito: palavras frequentemente utilizadas pelo ChatGPT começaram a aparecer com muito mais frequência na fala humana espontânea. Para chegar a essa conclusão, os cientistas analisaram mais de setecentas e quarenta mil horas de conteúdo, incluindo palestras acadêmicas no YouTube e podcasts de diversas áreas. A comparação entre padrões linguísticos antes e depois do lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022, foi feita por meio de métodos de inferência causal, capazes de isolar alterações realmente relacionadas ao impacto da IA.
Termos que migraram do chatbot para o diálogo humano
O levantamento mostrou que palavras como delve, underscore, comprehend, bolster e boast cresceram entre vinte e cinco e cinquenta por cento em conversas humanas. Esse aumento não ocorreu na leitura de textos criados por IA, mas em diálogos naturais, indicando que muitos usuários internalizaram expressões recorrentes do modelo sem perceber. O vocabulário do ChatGPT, portanto, passou a influenciar diretamente a construção da fala cotidiana.
O conceito do Loop Cultural Fechado
Os pesquisadores nomearam esse processo de Loop Cultural Fechado. O conceito descreve um ciclo contínuo em que humanos criam linguagem, as inteligências artificiais aprendem com essa linguagem, geram padrões próprios de preferência e, por fim, os humanos adotam esses novos padrões. Quando modelos futuros forem treinados novamente com dados influenciados pela IA, o ciclo se reforça. Assim, a fronteira entre o que é linguagem humana e o que é linguagem sintetizada por máquinas torna-se cada vez mais tênue.
Os principais pontos de debate
A descoberta gerou discussões em três frentes. A primeira é o risco de homogeneização da linguagem, já que a fala de milhões de pessoas pode gradualmente convergir para um estilo padronizado. A segunda é o perigo de colapso dos modelos, caso sistemas de IA passem a ser treinados predominantemente com conteúdo gerado por outras inteligências artificiais, reduzindo a diversidade e a estabilidade dos dados. A terceira envolve um possível estigma social, no qual determinados termos podem sinalizar dependência excessiva de ferramentas de IA, criando novas distinções simbólicas entre usuários.
A expansão do loop para além da inteligência artificial digital
Embora o estudo trate de modelos digitais, o loop cultural fechado também encontra ecos no campo da robótica. A Tesla, por exemplo, desenvolve o robô humanoide Optimus, e Elon Musk já sugere que, no futuro, essas máquinas poderão construir suas próprias unidades em fábricas autorreplicantes. Nesse cenário, a relação entre humanos e tecnologia torna-se ainda mais integrada, com sistemas físicos e digitais capazes de influenciar diretamente sua própria evolução e a forma como interagimos com eles.
A transformação silenciosa da linguagem humana
A evolução do vocabulário humano sempre foi moldada por fatores culturais, sociais e históricos, mas nunca contou com a presença constante e massiva de um interlocutor artificial. A incorporação de termos provenientes da IA mostra que as fronteiras entre fala humana e linguagem computacional estão se dissolvendo, num processo que ainda estamos começando a compreender. À medida que modelos e robôs se tornam mais presentes no cotidiano, a maneira como falamos e pensamos também se adapta, revelando uma transformação profunda e silenciosa provocada pela tecnologia.


